sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

No olho do furacão

Voltei para casa atordoada. "-O que está acontecendo comigo?? Eu não sou assim!!! Não entendo..."

Minha racionalidade se foi...já não era mais a Nanny.

Não dormi esta noite. Dia seguinte, não me concentrava no trabalho. Tentava, mas não conseguia.

Sexta-feira, 16 de novembro de 2007. Não tive alternativa a não ser mandar-lhe um e-mail, algo como:

"Não devia te escrever este e-mail, e se faço isso é porque a minha razão se foi...
Resisti o quanto pude...mas agora não vou mais.

Esquece que eu escrevi essa besteira e apaga esta droga!

Ps.: Exibir a tatuagem foi...golpe baixo."

Fim da mensagem. Meu também. Agora o inferno começa a conspirar a favor de uma cadeia de eventos para me empurrar penhasco abaixo. Dei mais um passo nessa direção...

Na semana seguinte, última sessão de acupuntura. Fiquei tão envergonhada com a minha atitude que pensei seriamente em não ir. Pararia por aí, e fim de papo. "-Ela é uma moleca, ele deve estar pensando...que mico que paguei! Não quero nunca mais vê-lo!". Ledo engano.

Segunda-feira, dia 19. Não trabalhei neste dia. Feriado prolongado na cidade...voltaria apenas quinta-feira.

São 7:30hs da manhã, aproximadamente. Ainda estou deitada na cama, quando o meu celular toca:

-Alô?
-Alô? É a Nanny*?
-É...quem tá falando?!(não reconheci a voz ao telefone...)
-Sou eu...Kaká*!
-Quem?! -pulei da cama, de susto. Não esperava. Mesmo!
-Kaká!...recebi o seu e-mail (que apaguei imediatamente após enviar).
-Como conseguiu meu telefone(congelada, sem reação...)?!Putz...a ficha médica...esquece o que eu perguntei!
-É...você está no trabalho?
-Não...é feriado prolongado na cidade...volto apenas na quinta...
-Então eu te acordei?Desculpa, pensei que estivesse trabalhando...
-Imagina!Já estava acordada...
-Eu tava pensando...essa semana é a sua última sessão na clínica...tentei te ligar semana passada mas não consegui falar com você...sei lá...tomar alguma coisa...
-Não tenho registrada nenhuma ligação...?!
-Então...você não tá a fim de sair?!

Putz grila! Pensei...quer dizer...não pensei:

-Claro!(sua idiota!)
-Beleza, então! Te ligo depois para confirmar...Então tchau, minha linda! [!!!]
-Tchau...

Fiquei absorta...atônita... Mordi o celular. "Que que eu acabei de fazer!?". Entrei no olho do furacão...

O filósofo Capitão Nascimento, diria ao meu ouvido, como voz da minha consciência: "-Você sabe que isso vai dar merda, né??". Não o ouvi. Ele deveria ter me estapeado! Tarde demais. A esta altura do campeonato, já estava cega, surda, muda...burra e sem tato.

Conversamos por telefone ainda umas duas ou três vezes até ficar acertado que o encontraria na quarta-feira, no horário do almoço. Depois, seguiria para a academia e faculdade(que fica em outra cidade onde não era feriado), como sempre.

Quarta-feira, 21. Teste cardíaco. Kaká* provavelmente nunca vai saber desse meu esforço. Essa história dá um filme, com certeza. Não dormi a noite inteira, pra variar.

Tomo o meu café da manhã. Tomo não, engulo. Meu metabolismo queimou o que eu comi em segundos, ou então foi o ácido do estômago, que tava alto demais, tamanha a adrenalina. "Preciso malhar! Tenho que controlar essa ansiedade e canalizar isso de qualquer maneira!", pensei. "Nunca, na história desse país...", eu tinha pisado fora da faixa, em momento algum, com ninguém. Não sei o que é isso. Me arrumei pra ir para a academia, só que minha irmã não foi trabalhar nesse dia também, em outra cidade. A bendita resolveu passar mal.

-Meu, cê me leva no médico do convênio?
-Sem crise...é do lado da academia! Já tava indo pra lá mesmo...Vambora!

Começa a operação de guerra...

O marido liga, do escritório:

-Nanny?
-Oi!
-Cê vai no despachante pra mim, pagar o IPVA? Esqueci e agora vai ter que parcelar, porque atrasou... o documento tá aí...
-Puxa, meu!Tô levando a mana no médico, que não tá legal...
-Passa lá na volta...
-Mas tô sem talão de cheques, acabou as folhas do último...
-Imagina, tem uns três zerados(novos) na cômoda!
-Não tô achando não...("procurando") tem que fazer isso hoje mesmo? Não pode ser outro dia...
-Mas tem!!Tenho certeza!!
-Puxa, vou ter que ir até o banco pegar folha avulsa de cheque, só pra isso??E como fica a facul...
-Mas você não está em casa, O DIA INTEIRO HOJE??Por favor...

Nessa hora, ouvir isso caiu como uma bigorna na minha cabeça. "Que que eu tô fazendo?!Vale realmente a pena o esforço?!". Naquele momento, para a minha cabecinha oca, valia.

-Tá bom, tá bom! Vou ver o que posso fazer...

Desliguei o telefone bufando, "p" da vida.

"Carácoles, e agora?!Justo hoje!!!". Tinha de me desdobrar e fazer tudo, para não cancelar o que combinei com Kaká. Era a minha única chance.

Levei a maninha no médico. Chegando lá na academia, malho desesperadamente. Como se minha vida dependesse disso. Puxei um ferro pesado mesmo, parecia um soldado treinando. Minha irmã voltou do médico e foi até a academia, com atestado em mãos. Ela tava com o resto do dia livre. Mal transpirei depois da musculação; senti como se tivesse feito apenas uma caminhadinha, com a mesma disposição para malhar o dia todo naquela bendita academia. Comprei crédito para o celular.

-Beleza, então. Bora pro carro!

Fui premeditando tudo o que eu faria de dentro do carro. "Bom, vou agora no despachante e vejo o que vai precisar, volto correndo pra casa, tomo banho, me arrumo o mais rápido possível, pego todos os documentos que preciso para pagar a p* do IPVA do carro e depois ligo pro Kaká, se precisar mudar o ponto de encontro na última hora. Não paro nem pra almoçar. Putz...não vai dar tempo...Tomara que dê tempo, tem que dar!". Foi o que fiz.

Em casa, bati todos os meus recordes de banho e arrumação, mas percebo que não vou conseguir resolver tudo no despachante e encontrar Kaká, deixando o carro em casa e voltando em seguida, a tempo. Não teve outro jeito:

-Mano Caçula, a moto tá aí?
-Tá...Por quê?
-Meu, preciso demais ir no despachante, pagar o IPVA que tá atrasado, e chegar cedo na facul que tenho prova hoje...quebra esse galho pra mim?
-Tudo bem, só que eu vou almoçar primeiro.
-Promete que não demora??
-Tá, tá bom!
-Rápido!
-TÁ BOM!!Meu, cê tá legal?
-Tô... tô sim... só tô com um pouco de pressa... quero resolver isso logo...

O mano Caçula demorou tempo suficiente para me enlouquecer e querer pendurar no lustre da sala, de raiva, mas me levou de moto no maldito despachante (que demorou outra "era" para me atender), e foi embora.

Kaká liga:

-Oi, tudo bem? Tô almoçando e já-já chego aí!
-Oi...então...precisei ir até o despachante para resolver uns problemas de última hora...talvez me atrase um pouquinho...
-Tudo bem! Te pego ali perto...

Ainda aguardando o miserável do despachante parcelar a droga do IPVA, eu tá estava espumando de raiva, sem querer me atrasar, e Kaká liga de novo:

-Oi, sou eu! Já saí de casa, cadê você?
-Ainda tô no despachante, um pouco enrolada...mas ele já tá terminando e estou indo pra aí(onde combinamos)!
-Tá...até mais.

O despachante liberou o documento antigo (o novo eu pegaria uma semana depois lá mesmo), e disparei como um foguete sem nem mesmo dar tchau. Liguei pro Kaká avisando que já tinha saído, que tava chegando e avistei de longe o carro dele. Aproximei do carro, de óculos escuros, sem olhar pros lados. Abriu a porta e entrei direto.

-Tudo bem? (beijos no rosto)
-Tudo... (pálida como uma cera, tremendo dos pés à cabeça, tentando demonstrar controle...) tô tão nervosa! Nunca fiz isso!

Ele fez uma cara de "claro que sim, e eu sou o Batman, virgenzinha" e disparou logo de cara:

-Vou te levar num motel que eu conheço, tá?
-M-mo-t-tel?T-tá...

Motel. MOTEL??!.

"Claro, sua criança caipira e estúpida. Motel!Pra onde pensou que ele iria te levar, sua jeca? Comer pipoca no cinema? Tomar sorvete na pracinha, como quando você e seu único namorado, - hoje marido - faziam, levando o mano Caçula a tiracolo de vela??! Se liga..."

Minha inexperiência me descredenciava cogitar essa possibilidade. Mas fomos. Era um caminho sem volta. Agora sim, fiquei tensa de verdade...

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